Não existe assim, para a mãe, filho ruim, perverso ou criminal.Continua a imagem do menino que saiu de seu corpo, amamentou-se, deu os primeiros passos, precisou de seus cuidados amorosos para sobreviver e lançar raízes nessa terra.
Deus testou Abraão, pedindo-lhe o sacrifício do filho Isaac, e foi ouvido. Não se dirigiu à mãe para não ter que mudar com sua divina onipotência as próprias leis da natureza.
Mãe daria sua vida, do seu povo inteiro e deixaria acabar o mundo antes de tomar a vida do filho.
Mãe será sempre capaz de absolver um monstro sanguinário, desde que ela seja sua origem. Sua compaixão é à prova de leis,opõe-se ao mundo inteiro e, se não consegue racionalmente negar a culpa dele, o justificará com a mais forte das razões: "é meu filho".Final de linha.
Se ele´"è meu filho", parece dizer a mãe:"por ele darei tudo,descerei ao inferno e ainda lhe perdoarei qualquer pecado. Estou neste mundo por isso".
Ninguém enfrenta a mais aparentemente indefesa espécie dotada de sentimento materno quando é na circunstância de ela defender sua prole.Não há quem a intimide. Até a gazela tenta chifrar o leão que segura sua cria.
Roma, cidade eterna e poderosa, berço da civilização ocidental, nasceu desse sentimento exemplificado pela loba que amamentou Rômulo e Remo. Mas um conto russo foi além, ainda emociona ao descrever a fera que existe na mãe e a mãe que existe na fera. Retrata uma loba solitária que encontra no covil seus filhotes mortos pelas mãos do homem.
Tomada pela dor e pela solidão ,com o peito carregado de leite e sentimento, segue na neve e rastro dos algozes até uma choupana. Perto da lareira vê um berço de vime e nele uma criança recém-nascida que, num instante, fica presa entre suas mandíbulas.Longe de se vingar e sacrifica-la como o homem fez com seus filhotes, leva-a correndo para o seu covil e passa a cuidar dela como se fosse sua cria.
O sentimento maternal rasga limites indescritíveis e, quando se enfraquece, o mundo perde sua principal proteção.
VITOR MEDIOLE